sábado, 5 de março de 2016

Masturbação Feminina ainda é Tabu

Hoje em dia,  se fala muito em liberdade sexual feminina, mas o que os dados mostram é na prática a coisa é bem diferente. 

Essa discrepância entre o discurso e prática foi mostrada em uma pesquisa de 2008 realizada e dirigida pela coordenadora do Prosex (Programa de Estudos em Sexualidade) da USP (Universidade de São Paulo), Carmita Abdo, onde mais de 8 mil pessoas em dez capitais brasileiras responderam a questões ligadas a sexualidade. A pesquisa que constatou que cerca de 53% das mulheres brasileiras solteiras, entre 18 e 25 anos, nunca se masturbaram, sendo que na mesma faixa etária e estado civil, apenas 4,2% dos homens responderam que nunca haviam se masturbado.  

Segundo a pesquisadora, independente da faixa etária ou do estado civil, a masturbação feminina comparada a masculina é significativamente menor.  O contato com o próprio corpo é tão proibitivo para as mulheres brasileiras, segundo a coordenadora da pesquisa, que mesmo procedimentos de saúde em que a mulher precisa entrar em contato com o seu genital não são aceitos com tranquilidade. Carmita cita, por exemplo, o tratamento com creme vaginal, a camisinha feminina e até o absorvente íntimo.Segundo ela, a mulher brasileira é culturalmente não está acostumada a se tocar e uma das provas disso foi a resistência inicial ao autoexame das mamas.

A pesquisadora usa a expressão ‘sacrossanta genitália’ para explicar por que esse toque na vagina é tão carregado de contextos culturais, históricos, morais e religiosos. “Parece uma situação de resguardo, para que num relacionamento a dois ela possa então permitir esse contato”, diz. Entretanto, aponta algo que poderia ser considerado uma contradição caso a sociedade não fosse machista: “ela não se toca, mas deve dar livre acesso para o seu parceiro”. Carmita ressalva que esse resguardo é pouco consciente. “Ela não está pensando isso – ‘não masturbo porque tenho que guardar’ -, essa mensagem é transmitida ativamente de geração para geração”. E acentua: “a mulher consegue se libertar um pouco mais na maturidade”. Tanto é que é entre as divorciadas na faixa etária entre 41 e 50 anos e 51 e 60 anos que aparecem os menores índices de mulheres que nunca se masturbaram: 26,6% e 14,7%, respectivamente. “Nota-se também que as mulheres separadas tem uma tendência à masturbação um pouco maior que as casadas e as solteiras. Elas se ressentem mais da necessidade do sexo”, avalia.


Para Carmita, a masturbação é importante para o homem e para a mulher. Segundo ela, é um boa fonte de autoconhecimento da sexualidade.  A carga cultural influencia não só o autoconhecimento da sexualidade feminina como funciona como impeditivo de verbalizar para o parceiro o que se deseja. “Mesmo quando ela é acessada, muitas vezes não solicita a continuidade de um estímulo positivo”, afirma. Carmita Abdo observa que conhecer o próprio desejo não é tudo. “Tem que ter também uma disposição para apresentar o que quer, o que excita”, conclui. 

A coordenado da pesquisa ‘Mosaico Brasil’ aborda ainda outras duas questões que se relacionam ao tema da masturbação. A primeira é a própria anatomia feminina que não facilita o acesso tanto quanto a masculina. “O homem tem condição de se tocar com muito mais discrição que a mulher. A menor acessibilidade ao genital também influencia”. Outra é como a genitalidade é algo muito mais premente na sexualidade masculina. “Toda a ação do homem é dirigida para a genitalidade como momento culminante, principal e almejado na relação. A mulher chega à genitalidade através de uma estimulação mais geral. Para o homem, o direcionamento todo é para o pênis. A mulher - para chegar à lubrificação necessária que favoreça a penetração e culmina com a descarga de tensão (orgasmo) –  precisa ser estimulada desde emocionalmente até fisicamente por vários pontos espalhados pelo seu corpo”, encerra

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